Na minha cabeça, o plano parecia original, mas sua execução parecia singela demais. Isso me fazia duvidar de que eu pudesse realizar um sonho acalentado por anos: entrevistar Paul McCartney, entre um gole e outro do clássico chá inglês, um dos mais tradicionais rituais britânicos.
Conversa, claro, gravada e com uma boa alma registrando em fotos esse momento especial. Nada poderia dar errado, porque outra chance como essa dificilmente eu teria em minha vida.
Até então, o mais próximo que eu conseguira ficar dele foi espremido na chamada "turma do gargarejo", no segundo show de Paul no Rio de Janeiro, em abril de 1990, na turnê Get Back, quando ele tocou pela primeira vez no Brasil. Naquela ocasião, 184 mil fãs compareceram ao Maracanã, levando o show ao Livro dos Recordes como o maior público pagante de um artista solo em toda a história.
Meu plano começou a ser montado alguns meses depois da morte do beatle mais genial (e meu favorito) John Lennon, em dezembro de 1980. Eu passava por uma fase de prostração musical, tentando entender como um maluco – no caso, o assassino, que dizia amar John acima de qualquer coisa – o mata friamente a tiros de revólver.
Foi em meio a uma daquelas audições caseiras dos hits do grupo que planejei tim-tim por tim-tim todos os passos. Primeiro, perderia a inibição e cobraria aquele dinheiro que emprestara a um velho amigo havia dois anos. A grana seria suficiente para bancar a passagem Brasil-Inglaterra-Brasil e hospedagem com alimentação num hotelzinho de duas ou três estrelas em Londres, por três ou quatro dias.
A segunda etapa seria descobrir onde Macca – como nós, fãs cheios de intimidade, o chamamos – mora e como chegar lá. Contato daqui, troca de e-mails dali, uma consulta aos sites beatlemaníacos acolá, e pronto: descobri que ele e sua mulher de então, a modelo Heather Mills, moravam numa casa em Rye (litoral oeste de Londres), mais precisamente em Peasmarsh. Agora, era reservar um hotel próximo e viajar.
A minha parte do plano estava montada. O que se daria a seguir dependeria de três coisas:
1) sorte para encontrar Paul em sua residência e de bom humor;
2) burlar a vigilância do que suponho seja uma rigorosa segurança; e
3) o mais difícil: conseguir me aproximar do meu ídolo e convencê-lo a me dar uma hora da sua atenção. Daí o fã brasileiro receber um convite para entrar na casa e tomar chá vai outra longa história.
Quando tudo estava pronto, surgiu um fato inesperado, porém maravilhoso: fiquei sabendo que, aos 50 anos, minha terceira filha, Ana Eliza, viria ao mundo, em julho de 2003, mês anterior à data da viagem. Minha felicidade foi tanta que nem me importei de adiar, mais uma vez, agora para a segunda metade do meu século de existência, o já velho sonho.
Chavinho e Paul |
Pois é, 11 anos se passaram e meu sonho está, agora sim, prestes a se tornar realidade. E nele embarcaram minhas duas outras filhas, Priscilla e Mayra, ambas impregnadas pela paixão do pai, e meu genro, Francisco. Em agosto, finalmente, vou participar, em Liverpool, da BeatleWeek, fantasia de qualquer beatlemaníaco.
O passeio – claro! – inclui Londres e, quem sabe, um encontro com Paul para um chá das 5 em sua casa de três andares em uma rua de St. John's Wood, no noroeste de Londres, onde vive com sua atual mulher, a empresária norte-americana Nancy Shevell.
Edson Chaves Filho, o Chavinho, é um querido amigo que mora em Brasília, mas é recifense e maluco pelo Internacional de Porto Alegre. E, claro, um grande fã dos Beatles.