6 de jul. de 2011

HÁ 54 ANOS ATRÁS PAUL CONHECIA JOHN

06 de Julho de 1957. Paul McCartney se levanta de sua cama, lava o rosto, coloca uma camisa. Uma tal banda chamada “Quarrymen” se apresentaria hoje em Liverpool, no Garden Fete de St. Peter’s Church. Desceu as escadas, tomou café com seu pai, Jim. Resolveu sair para a rua, enrolar até a hora do show.

Enquanto isso, não muito longe dali, John Lennon acordava. Ele estava nervoso, sua banda se apresentaria hoje e ele não podia disfarçar a insegurança quanto a isso. E se a plateia não gostasse? E se algum dos outros integrantes da banda passasse mal, errasse os acordes? “Foda-se” – exclamou ele – “somos foda, vai dar certo. Somos os melhores”, como se aquela frase lhe trouxesse mais confiança em si e nos outros.

Levantou, lavou o rosto e colocou uma camisa – assim como Paul havia feito, talvez na mesma hora. Encontrou sua tia Mimi na cozinha, preparando o café da manhã. “Olá, tia!”, disse a ela, dando-lhe um beijo na face. “O que temos para o café da manhã?”, perguntou, enquanto olhava a mesa. “Hum, nada de mais” – disse a bondosa tia – “biscoitos, café, pão. Pode se servir”. Fez o habitual lanche rápido e se despediu com pressa, não sem antes pegar sua guitarra.

Paul saiu andando pelas ruas, encontrando alguns amigos, deixando-se perder tempo, passando em frente de certa casa de onde saía um menino com uma guitarra; mais um do bairro, qualquer um, julgou ele. O menino que saía da casa olhou para o estranho com raiva, cara de “tá olhando o quê, hein?”, mas não quis perder seu tempo com a pergunta.

Às 17h o Garden Fete já estava cheio. John chegou correndo, afinou a guitarra de qualquer jeito, encontrou os amigos e eles começaram a tocar. Para a surpresa de John, estavam tendo uma boa aceitação por parte da plateia. Ele estava orgulhoso. Veio o intervalo e um menino se aproximou acompanhado de Ivan Vaughn, um amigo em comum, que os apresentou. Eram 18 horas, 48 minutos. Um inesquecível momento para os próximos milênios.

Estou gostando bastante do show, parabéns”, disse ele. “Porém, fella, há um problema na afinação de sua guitarra”. John olhou com estranhamento. “Quem é esse branquelo idiota pra dizer quando minha guitarra está afinada ou não?”, pensou. “Posso tentar afiná-la pra você?”, perguntou o primeiro. “Se não der certo, pode pegar de volta e eu não te encho mais”. “Tudo bem, mas rápido que o show já vai recomeçar”.

Paul pegou a guitarra e começou a tocar “Twenty Flight Rock”, de Eddie Cochran. “Olha só, realmente não estava bem afinada”, disse ele. John reparou que ele era canhoto. “Como esse filho da mãe pode tocar tão bem sendo um canhoto que está tocando um instrumento desafinado para destros?”, perguntou-se ele. “Pronto, bem melhor!”, exclamou Paul, emendando “Be-Bop-A-Lula”. John estava, sem dúvidas, impressionado. “Com um cara desses na banda, nós seríamos imbatíveis, mas ele é tão bom quanto eu e deve ter um ego dos diabos”, continuou pensando, em silêncio. Após um tempo, limitou-se a sorrir e agradecer. “De nada. Aliás, meu nome é Paul McCartney”. “Lennon. John Lennon. Obrigado, mas agora preciso voltar a tocar”, e assim ele foi embora, subiu no palco e recomeçou a tocar, mas não conseguia tirar as habilidades descomunais daquele menino da cabeça.

Paul ficou até o final do show e depois se afastou, ficando perto de umas árvores numa praça perto dali. De repente, viu Ivan se aproximando. “O John ficou impressionado, cara! Eu nunca vi ele daquele jeito! Está falando de você até agora, mas é orgulhoso demais pra vir aqui falar o que vou dizer. Ele quer que você entre para a banda”. Paul ficou boquiaberto. “Eu, na banda? Com o John? Mas…” – o outro continuou antes mesmo que Paul pudesse terminar: “Olha, Paul, se eu fosse você aceitaria. O John não costuma agir assim com ninguém. Vai por mim, ele gostou de você”. Foi o necessário para fazer Paul acreditar e acatar a ideia. Após uma excursão com o irmão, ele começou a fazer parte efetivamente da banda. A revolução havia começado, as almas gêmeas haviam se encontrado.

Texto de Tamires Paulino

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